Home office

O home office na pandemia

Por este motivo inúmeras empresas adotaram a medida do home office (trabalho em casa) para resguardar chefes e colaboradores.

Com esta medida adotada para evitar aglomerações e seguir as recomendações do Ministério da Saúde sobre praticar a quarentena, algumas empresas já estavam acostumadas, mas outras começaram a praticar o home office pela primeira vez, convivendo então com alguns desafios, vantagens e desvantagens sobre este novo modelo de trabalho.

É o caso de Larissa Nascimento de Souza, de 26 anos. Assistente de marketing, ela é responsável pela criação de conteúdo da empresa, tanto para as mídias sociais como para o marketing interno, elaborando também campanhas motivacionais.

Segundo Larissa, esta é sua primeira experiência de trabalho com o home office e sua principal dificuldade é a concentração, justamente por estar em casa. Seu maior benefício é ter algumas liberdades (como um horário de trabalho flexível) e uma maior privacidade. Questionada sobre a possibilidade de continuar o home office, ela relata: “acho interessante, precisamos estar aptos a mudanças e nada melhor do que trabalhar no conforto de casa, acredito que a qualidade de vida iria se elevar muito”, disse Larissa.

Já Natália Pontes Macedo, de 24 anos, se identifica melhor com o trabalho presencial. Mentora em uma operação de telemarketing, ela treina funcionários novos na equipe, além de criar conteúdo e apresentações para a empresa, como vídeos e slides. Não tenho uma boa experiência trabalhando de casa. Tenho dificuldades em não ter uma interação direta com a minha equipe, então, prefiro lidar com as pessoas presencialmente. Mas por outro lado, acredito que o home office pode dar um novo aprendizado aos funcionários, fazendo com que todos se superem neste assunto, conclui.

Segundo a pesquisa da Fundação Dom Cabral com a Talenses, a maioria dos setores empresariais declararam dificuldade para implantar o home office e mais de 70% delas (representantes de todos os setores da economia brasileira) esperam que esta nova prática de trabalhar de casa continue após a pandemia, de modo integral ou parcial. O comércio é o setor que menos espera a permanência desta nova rotina de trabalho.

O coordenador de uma empresa de segurança da informação localizada em Diadema/ SP, Felipe Micai, contou a AICOM um pouco da sua experiência profissional com a modalidade home office. Segundo ele, o grande desafio da empresa é garantir que o tempo está sendo bem usado pelos colaboradores, que mesmo longe da supervisão direta todos estejam sendo produtivos. E, para os funcionários, tomarem o cuidado para as distrações do ambiente não prejudicar o trabalho, garantindo que o tempo seja bem usado.

Ele ressalta alguns benefícios e pontos negativos dessa prática. Um dos benefícios é que não existe o stress do trajeto até o trabalho. Isso é bom principalmente para quem mora longe do trabalho e precisa de um deslocamento via transporte público ou pega muito trânsito. Outro benefício é que, se bem usado, o tempo livre pode ajudar na produtividade. A principal desvantagem no meu ponto de vista é que a comunicação fica prejudicada na questão de rapidez de resposta.

Questionado sobre como os setores de sua empresa se comunica ou se possuem alguma dificuldade neste assunto ele relata: os principais canais de comunicação são o telefone e o Skype. “Eventualmente, quando preciso de algo mais pessoal, faço reuniões usando softwares de videoconferência. Não vejo dificuldade na comunicação, apesar de nem sempre as respostas serem tão rápidas comparadas a tratar pessoalmente um assunto”. diz.

Para Felipe, interferências externas do dia a dia nas ligações como latidos de cachorro ou choro de criança não causam desconforto, visto que, numa situação como essa, onde praticamente 100% da empresa precisou de uma hora para outra trabalhar de casa, todos tiveram de se adaptar. “A empresa já trabalhava em proporções menores o home office” e garante que esta atitude será considerada no futuro como algo a ser expandido.

Segundo o médico infectologista e docente na Universidade de São Paulo, Valdir Sabbaga Amato, o coronavírus é um grupo de vírus conhecido há vários anos, este atual vem de uma mutação genética atrelada aos vírus anteriores que tinham como sintoma comum um resfriado e baixa gravidade, o contrário deste novo vírus. Geralmente, são localizados em animais, porém, a origem da nova Covid-19 não é bem conhecida até hoje. Este novo vírus é o que mais preocupa médicos e especialistas.

O período da incubação deste vírus varia de 1 a 14 dias. No Brasil, a incubação costuma ser de 3 a 4 dias, momento em que uma pessoa teve contato com um infectado e está transmitindo o vírus. O sintoma mais comum é a febre em torno dos 38 graus, falta de ar, tosse seca e irritante e dor no corpo. Este é um vírus peculiar, portanto, novos sintomas vêm surgindo com o passar do tempo, como diarreia, perda de olfato, paladar e sintomas neurológicos, como o esquecimento e até acidente vascular cerebral. “Já presenciei casos em que o indivíduo não apresentava nenhum desses sintomas, mas estava contaminado”, admitiu o médico. 

Questionado sobre a importância de praticar o isolamento social, Valdir afirma que esta atitude é fundamental e obrigatória por dois motivos: primeiro pela proteção individual, visto que a transmissão do coronavírus é fácil e rápida (por gotículas de vias aérea e saliva) e pela saúde pública. Como este vírus é de alta transmissão, o sistema de saúde suporta somente um determinado número de doentes. Se todos adoecerem ao mesmo tempo vai ter um colapso no sistema de saúde. No Brasil, 5% dos pacientes (independentemente se for do grupo de risco ou não) vão precisar de terapia intensiva e 80% das pessoas irão transmitir o coronavírus. Então, a quarentena é essencial até que a ciência avance e na descoberta de um medicamento eficaz. A quarentena serve para além de proteger o indivíduo, proteger o sistema de saúde para que ele dê conta de atender a todos.

Mesmo em casa devemos tomar alguns cuidados, como possuir sempre um álcool em gel e manter o ambiente limpo e higienizado. Ao pedir comida por delivery ou comprar produtos pela internet, atender o entregador sempre de máscara e luva e higienizar muito bem a embalagem entregue para evitar a contaminação. Além disso, manter a distância essencial de 1,5 m, não tocar na face e evitar ao máximo aglomerações, incluindo visitas de parentes e amigos.

Esse vírus tem um fator agravante, a pessoa pode estar no período de incubação da doença, então mesmo sem sintomas ela já transmitindo o vírus. É importante destacar que as crianças são excelentes transmissoras e na maioria das vezes assintomáticas, então levem a sério a quarentena, nada disso é um exagero, elas não devem visitar nem mesmo os avós quem dirá encontrar com desconhecidos na rua. 

O isolamento social foi feito para o achatamento da curva de transmissão, que diminui conforme a cura dos infectados e a diminuição de transmissão. Estamos nessa situação hoje, porque antes da quarentena já tinha várias pessoas infectadas transmitindo o vírus sem saber. O número de infectados está diminuindo em alguns países, mas na maioria deles já atingimos o pico da doença, com várias pessoas doentes ao mesmo tempo.

Outro agravante é que não sabemos se indivíduos curados são protegidos a uma nova infecção ou podem transmitir o vírus novamente e isso nos leva a um problema futuro. Na China por exemplo, as pessoas continuam evitando aglomerações e usando máscaras com medo de uma segunda fase da doença. 

Em entrevista a AICOM, Claudio Ribeiro de Lucinda, docente em Economia da Universidade de São Paulo (USP), relatou que após a pandemia (momento em que as pessoas podem retomar suas atividades usuais sem risco de adoecer ou morrer) a economia do país ainda levará um tempo para se ajustar por conta dos efeitos tanto em termos das empresas (quebras, reorganizações) quanto do governo (efeitos fiscais) e em questão dos empregos haverá uma demora um pouco maior até o mercado de trabalho se regularizar. Por isso, a taxa de desemprego poderá aumentar e a prática do home office pode crescer ainda mais.

Segundo Claudio, quanto mais longa for a interrupção das atividades econômicas por conta do COVID, mais demorada será a recuperação depois. “Note-se que isso não é um julgamento sobre as medidas de interrupção das atividades econômicas – as considero bem-vindas e necessárias.” A situação econômica do Brasil é imprevista para o momento, visto que a duração da transmissão da pandemia é incerta, por isso a melhor solução é a prevenção e a esperança de que esta situação vai passar.