Em dezembro quando a pandemia surgiu na China pouco se pensava no quão devastador o novo vírus seria. Em março o país entrou em quarentena e com ela muitos problemas surgiram na vida do brasileiro, principalmente na área econômica. Perante as circunstâncias, a população passou a trabalhar diretamente de suas casas, as empresas enfrentam queda no faturamento por causa do isolamento social. A medida adotada pelas empresas foi reduzir o salário dos trabalhadores, algumas, inclusive, deram licença não remunerada, como a Gol, por exemplo.
O Governo Federal criou o “Auxílio Emergencial” para tentar ajudar os trabalhadores informais e pessoas que se enquadram no recebimento, porém muitos sentiram-se lesados com a demora e desinformação que o programa gerou. Os economistas alertaram para um possível colapso econômico e no aumento da inadimplência financeira. O brasileiro ficou sujeito ao questionamento sobre como levar adiante a situação e como administrar o pouco que irá ganhar durante o isolamento: Quitar as dívidas ou apenas o necessário?
A economista Milena Santos diz: “Quem puder quitar as dívidas e não deixar acumular é melhor, obviamente. Porém, não são todos que terão essa possibilidade em mãos. Os bancos inclusive mantiveram os juros acordados e prorrogaram o pagamento das parcelas dos empréstimos, auxiliando na administração dos recursos domésticos. Cabe as pessoas tirarem proveito da situação e se organizarem”.
Segundo o aplicativo de finanças pessoais GuiaBolso, os gastos desnecessários e supérfluos registraram queda. O aplicativo analisou 250 mil usuários e o resultado apontou que gastos com moda e cabelo caíram 90% entre a primeira semana de março e o início de abril. também os aplicativos de transporte e lazer recuaram aproximadamente 45%. Com esses resultados, a economista alerta para o que se alinha no horizonte. Para Milena, em período de isolamento social não há garantia sobre a empregabilidade e a economia irá “girar” aos poucos. Então, é preciso manter o autocontrole e não se desesperar. “Se a pessoa pensar que não sairá viva de tudo isso e sair gastando o que não pode, aumentando as dívidas, porque merece, está fadada a ter problemas econômicos no futuro”, diz a economista.
A inadimplência no Brasil é uma realidade. Segundo o serviço de proteção ao crédito Serasa, cerca de 40,3% da população adulta está inadimplente no País e os brasileiros se veem desamparados sem o valor total do salário. As contas, antes mantidas, poderão sofrer atrasos, cancelamentos e, por fim, a pessoa pode ter o crédito negativado no órgão. Dhúlia Martins, dona de casa e responsável pela administração das finanças da família, cancelou os serviços de assinatura e streaming, mantendo apenas a internet. As compras de supermercado agora não incluem “besteiras”, apenas o básico para que o dinheiro sobre para as carnes, cujo o valor, segundo ela, aumentou devido a inflação. A dona de casa explica que não é fácil deixar de gastar tão rapidamente. “Eu tinha meus ‘vícios’, agora tenho que me restringir, pensar apenas em deixar as contas quitadas, na comida. Se meu marido não comesse tanto talvez sobraria alguma coisa (risos), mas estou controlando cada coisinha”, garante.
Mas não são todos que pensam em administrar o recurso que têm no bolso. João Mattos pensa o contrário. Sem autocontrole, ele viajou três vezes consecutivas durante o isolamento social e ainda permanece em viagem. Para ele, é impossível de uma hora para outra deixar de gastar e cortar tudo. “Minhas contas são fixas, meus serviços são fixos, não posso ficar sem Netflix nessa quarentena toda. Provavelmente entraria em depressão, ficando apenas em casa”, disse. Questionado sobre as medidas de segurança para a prevenção de contágio com o coronavírus e de sua permanência em casa João respondeu: “Eu sei que todo mundo precisa ficar em casa, mas eu viajei para a casa de amigos e familiares, inclusive, estou no Sul com a minha irmã. Vou tentar reduzir os gastos mas será difícil”.
O cenário atual infelizmente favorece a inadimplência. É necessária atenção às finanças pessoais para que as dívidas e gastos não virem uma “bola de neve” ou até mesmo uma avalanche e caia em cima do indivíduo. Renegociar as dívidas neste período está mais fácil segundo a economista. Segundo a especialista, com todo esse caos os bancos e entidades sabem que a falta de pagamento é uma consequência prevista, ou seja, é totalmente interessante para eles negociarem com o cliente uma dívida para que este tente ficar em dia. “Lógico que os juros não vão recuar, caso o mesmo atrase o pagamento, mas, conversando com o gerente é possível tirar vantagem da situação”, afirma a economista.
Através de sugestões passadas anteriormente pela economista e observando o mercado financeiro atual, algumas dúvidas foram respondidas para que o leitor possa tirar proveito das dicas. Neste sentido, a AICom apresenta algumas dessas orientações para você não perder dinheiro e controlar suas finanças:
Aicom: A pessoa deve quitar as dívidas ou pagar os serviços essenciais, como água, luz, alimentação e moradia, e depois tentar negociar com o banco?
MS – Não é recomendado o acúmulo de dívidas e juros, mas como estamos vivendo algo inesperado eu optaria por tentar negociar com o banco. Se houver acordo entre ambas partes (banco e cliente) eu pagaria as dívidas. Quanto aos bens essenciais tentaria um desconto na moradia. Compraria apenas o necessário, equilibrando o consumo doméstico para que as contas não venham altas. Caso não haja negociação com a entidade bancária eu optaria pela minha sobrevivência, claro.
AICom – Você recomenda investir dinheiro durante a pandemia?
MS – Não, eu não recomendo, pois investimentos têm seus riscos, precisa ser muito bem estudado e trabalhado para fazer grandes investimentos. E o nosso país está passando por momentos instáveis na economia, não é uma boa hora para se pensar em investimentos.
AICom – Muitas pessoas pensam: “Não sei se sairei viva disso tudo, vou comprar pois eu mereço”, que dicas você dá para uma pessoa que pensa assim e como manter o autocontrole?
MS – O futuro é incerto, temos que pensar se sairemos vivos? Sim, mas não sair endividado. Como vou fazer para quitar as minhas dívidas que fiz ao decorrer da quarentena sabendo que, se eu sobreviver, eu não terei como pagar. É hora de se aquietar.
AICom – Como economista e uma boa administradora financeira quais as dicas infalíveis para conseguir chegar ao tão almejado objetivo financeiro, tipo: quitar dívidas, comprar um carro ou imóvel?MS – Primeiro objetivo, quite suas dívidas. Segundo objetivo, junte seu dinheiro para comprar o que tanto almeja, seja seu imóvel, carro e etc. Cuidado, casa própria dependendo do local, não é investimento, o carro também, tudo deve ser feito na “ponta do lápis”, calculando os impostos, juros e taxas. O mais importante e que muitos não fazem é poupar o dinheiro e guardá-lo com segurança. Isso é primo