O Instituto Butantan é referência mundial e destacado centro de pesquisas biológicas e um dos maiores do mundo. O órgão ficou responsável pelo desenvolvimento de testes para o diagnóstico do novo coronavírus e identificação de seu material genético. Com o auxílio de cientistas dos EUA, os biomédicos do Butantan testaram a vacina contra a pneumonia e que pode ser considerada um tratamento alternativo para a Covid-19.
Com o isolamento social o Instituto fechou as portas para o público e apenas os funcionários seguem em atividade. Segundo a biomédica Cecília Mara, os funcionários que fazem parte do grupo de risco foram afastados e muitos cuidados estão sendo tomados pelo Instituto. “Já trabalhávamos de máscara, luvas, jaleco e o ambiente era esterilizado várias vezes ao dia, então isso se manteve e acredito que estamos até exagerando, mas todo cuidado é pouco”, diz a biomédica. Quando questionada sobre as alas que ainda exercem atividade e como estão as novas pesquisas ela responde: “As alas que já possuíam pesquisas em andamento se mantiveram como estavam, mas todas seguem com o funcionamento fluindo, apenas alguns programas internos relacionado à elas que precisaram ser interrompidos, como a recuperação de espécies específicas próximas da região.”
O local possui 80 hectares de área verde, quatro museus e o seu famoso serpentário, por ano o Instituto recebe mais de 150 mil visitantes e são diversas atrações e atividades para o público oferecidas pelo órgão, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Cecília é questionada sobre a ausência dos visitantes no Instituto e como isso a influência no trabalho: “Não só a mim, mas todos. Lógico, sou biomédica e não fico tendo contato com ninguém que vá para o Butantan, mas realizo pesquisas e algumas amostras do meu trabalho são expostas no Museu de Microbiologia, é gratificante quando as mocinhas que acompanham tudo lá dentro vinham até a mim e comentavam que as crianças amaram, que meu trabalho despertou curiosidade em alguém e o que estou fazendo e pesquisando sempre é para ajudar o país inteiro, é bem compensador”.
O Instituto teve que se readaptar em questão da higiene e nos cuidados em manter o distanciamento social, para evitar aglomerações no local e não afetar os funcionários. A biomédica conta que o essencial é o Instituto manter o pessoal sadio e seguro contra a Covid-19, pois “contratar ou depender de algum estagiário ou profissional sem total experiência não é interessante e pode pausar e, até mesmo, parar uma linha de produção”, afirma.
Muitas pesquisas estão sendo realizadas nos laboratórios do Instituto. Das três vertentes do Butantan apenas duas seguem em funcionamento, a de produção das vacinas e centros de pesquisa. Já os parques, serpentário e museus foram fechados. No museu biológico (biotérios), há funcionários cuidando dos microrganismos diariamente, mantendo-os vivos e alimentados. No de microbiologia e história, o número de funcionários foi reduzido.
Como qualquer outro lugar e empresa, alguns setores sofreram alterações como o RH, que conta com o revezamento de turnos. As áreas comuns são acessadas apenas pelo pessoal autorizado e funcionários específicos. Os refeitórios tiveram as mesas mais afastadas e horários diferentes para cada setor para uma maior dispersão do fluxo de pessoas. São formas de se prevenir contra o vírus e de continuar as pesquisas para trabalhar com mais segurança e encontrar novas formas de combate.
Cecília mensura que a fábrica de vacinas funciona 24 horas por dia e desde março, devido ao início do surto, a produção de vacinas está adiantada, desde os testes de identificação do novo coronavírus, as influenzas e vacinas antiofídicas. No entanto, há setores dentro do instituto que os funcionários fazem plantões diariamente, como o cuidado com os animais que fornecem material genético para a preparação de vacinas e pesquisa, assim como o Hospital Vital Brazil, que possui médicos para o atendimento de pessoas que foram picadas por qualquer animal peçonhento.
O local possui também a Escola Superior do Instituto Butantan (ESIB), que liga todo o conhecimento do Instituto à educação de alunos estagiários, assim como a pós-graduação, programas e eventos que agregam o conhecimento sobre a biodiversidade científica. Os programas e eventos foram cancelados por tempo indeterminado. “Os alunos que tinham teses em andamento tiveram o prazo prorrogado. Os biomédicos que possuíam pesquisas, continuam dentro do Instituto, caso contrário, foram dispensados para realizarem diretamente de suas casas”, complementa a funcionária.
A rotina do Instituto foi drasticamente alterada, afetando indiretamente algumas pessoas, como as que perderam o emprego, os alunos e pesquisadores que tiveram suas teses adiadas. Mas, todas as medidas visando um bem maior, a saúde de todos os envolvidos. O Butantan é um dos maiores centros de fabricação de vacinas do mundo. Se o Instituto não tomasse medidas de isolamento e restrição, a população brasileira estava condenada, pois o país não é assolado apenas pela Covid-19, mas por diversas endemias.