Pessoa lavando as mãos

Comunidades de SP enfrentam falta de água na pandemia

Moradores da periferia de São Paulo enfrentam além da pandemia outros problemas durante a quarentena. Um deles é a falta de água em muitos bairros da Capital. Um desafio que tem dificultado ainda mais a vida de famílias que não têm o básico para se protegerem contra o coronavírus. A pandemia jogou luz sobre um dos maiores problemas do Brasil: a desigualdade social. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é para que todos se protejam e reforcem ao máximo a higiene pessoal, lavando as mãos com água e sabão frequentemente. No entanto, a redução na pressão da água, que acontece todas as noites, dificulta a rotina de limpeza necessária para evitar o contágio da Covid-19. 

“Falta água para muita gente. É sempre na parte da noite e fica até de madrugada. Quando volta é uma água com esgoto forte e meio turva”, conta Michael Deivison Souza, morador e líder comunitário em Vale das Virtudes, comunidade localizada na zona Sul da Capital, próxima ao Campo Limpo. 

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) em nota para o jornal Folha de São Paulo afirmou que os problemas daquela área estão sendo solucionados e negou que haja racionamento de água. O Observatório Nacional dos Direitos à Água e Saneamento (ONDAS) já havia afirmado, em março, que sem o fornecimento adequado de água às pessoas mais vulneráveis não seria possível interromper o coronavírus. O órgão defendeu que fosse suspensa a redução na pressão da água durante a noite, pois os moradores acabavam sendo mais prejudicados, principalmente os que não têm caixa d’água. Na comunidade Vale das Virtudes o desabastecimento persiste. “O problema é constante e não há nenhum posicionamento da companhia. A realidade da quarentena, o isolamento com álcool em gel e essas coisas que a mídia divulga, não fazem parte da nossa realidade atualmente”, afirma Michael. 

Na tentativa de solucionar alguns dos problemas e enfrentar melhor a luta contra o vírus, a solidariedade tem feito a diferença. Michael integra um projeto desenvolvido pelo G10 das Favelas, bloco de líderes e empreendedores de impacto social das comunidades que visa o desenvolvimento econômico e social dessas áreas. O projeto tem objetivo de apoiar famílias em situação de vulnerabilidade social. “Estamos replicando políticas públicas voltadas para a favela, toda a assistência está vindo por meio de apoio do G10”, disse Michael. 

O bloco organiza e capta recursos para doação de cestas básicas, marmitas e kits de higiene. Até o momento, a ajuda que tem chegado nas comunidades vem de organizações independentes que são lideradas pelos próprios moradores. O auxílio emergencial disponibilizado pelo Governo também é uma questão. Michael conta que a demora na aprovação tem feito muitas pessoas se arriscarem em filas e aglomerações da agência bancária. “As pessoas estão optando por buscarem o sustento da família, se arriscando perante o vírus. Se ficarem em casa morrem de fome sem nenhum auxílio do governo”, relatou Michael. 

A situação na periferia ainda é muito precária e durante a pandemia a desigualdade social ficou mais evidente, tornando essa população a mais vulnerável diante do coronavírus. Em entrevista coletiva, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, afirmou que a pandemia teve início na região central da cidade, mas se espalhou com maior gravidade nos bairros periféricos, áreas onde o abastecimento de água deixou a desejar no período de maior atenção e necessidades básicas para o enfrentamento ao vírus.