Evento trouxe discussões sobre o formato que vem se popularizando no Brasil
Por Gabriel Ferreira e Gabriela Marquetti [1]
Edilaine Felix [2]
Teve início nesta segunda-feira (21) a 9ª edição da tradicional Semana de Comunicação realizada pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, que trouxe a palestra “Podcast: novos formatos da comunicação”, e contou com a presença do jornalista da Folha de S. Paulo, Rodrigo Vizeu, e a ex-aluna da FIAM-FAAM, Leticia Mota, atualmente responsável pela produção de podcasts para o Sistema Globo de Rádio.
Apesar de ter ganhado força nos Estados Unidos por volta de 2014, o podcast é um fenômeno recente no Brasil. Leticia, que se formou em Jornalismo em 2017, foi a primeira aluna da instituição a adotar o formato como projeto de Trabalho de Conclusão de Curso. Hoje, faz parte dos 13,5% de mulheres atuando nessa área. Sobre a experiência de ser a pioneira nesse campo, ela conta: “Ninguém entendeu muito bem o que era o podcast. Na verdade, quando eu pensei no formato, nem eu conseguia dizer que era um podcast. Pensei que pudesse ser só um programa de áudio para a internet”.
A conversa discutiu as particularidades do podcast, envolvendo uma linguagem narrativa própria e a praticidade de oferecer ao ouvinte uma seleção de temas que podem ser escolhidos para serem ouvidos no momento mais oportuno, em contraponto ao rádio. “É uma outra narrativa”, diz Letícia, “É uma outra construção que você tem que trazer para que aquilo abrace como o podcast abraça, porque ele faz parte da rotina das pessoas de uma forma que o rádio não faz.”
Rodrigo Vizeu, que é responsável pelos podcasts Café da Manhã e Presidente da Semana, da Folha de S. Paulo, comparou o formato utilizado com aquele presente nas radionovelas dos anos 1950, ao que se refere aos recursos sonoros. “Você pode trabalhar com silêncios, pausas, trilha”, disse, “quem trabalha com isso precisa pensar em todas as formas diferentes de se contar uma história”.
Popular
Devido à grande popularidade do podcast, ambos ressaltaram que é importante avaliar o tema a ser abordado de modo a concluir se é realmente necessário adotar essa narrativa em formato de áudio, ou se ela poderia ser melhor inserida em modelos como o texto ou o audiovisual. A grande excitação em adotar o podcast como formato narrativo pode levar à presença de muitos programas parecidos no mercado, resultando em uma fragmentação do público e falta de originalidade. Vizeu ressalta: “O podcast não vai salvar o jornalismo”.
Buscando uma melhor qualidade para esse programa de áudio, de modo que não haja excesso de programas no formato opinativo, Leticia e Vizeu defendem o conteúdo narrativo e organizado, mesmo quando o episódio se trata de uma conversa. “Quando você produz o roteiro, você consegue pensar nas inserções que você vai fazer dentro desse roteiro”, defende Leticia. O uso de roteiros bem definidos, bons efeitos sonoros, e a preocupação com a qualidade do áudio a ser reproduzido, são tópicos-chave na construção de um bom podcast.
Quanto ao futuro desse formato, Leticia defende que, apesar do crescimento no Brasil, o grande hype do produto pode eventualmente diminuir, e “só quem realmente souber fazer podcast vai permanecer”. Vizeu complementa dizendo que é possível que o próprio formato do podcast como o conhecemos mude. “Talvez daqui um tempo as pessoas comecem a se relacionar com o áudio em um formato muito mais fast food”, ele disse ao citar o exemplo do programa de inteligência artificial da Amazon, Alexa.
Futuro
Ambos esperam, também, que com o aumento de ouvintes desse meio, as marcas se interessem cada vez mais em patrocinar e investir em parcerias com podcasts, já que, por ainda ser algo muito recente, todos ainda estão procurando a melhor forma de rentabilizar o programa, seja através do próprio apresentador fazendo a propaganda, intervalos ou por formas de doação.
Patricia de Matos Silva, estudante do sexto semestre de Jornalismo, se mostrou satisfeita com a proposta de universidade em propiciar um debate sobre um formato tão recente. “Eu acho que nós teremos que lidar com essa realidade no mercado de trabalho, então ouvir de quem está protagonizando essa mudança é muito importante pra isso”, relatou.
A 9ª Semana de Comunicação ocorre até o dia 25/10, nos campi Ana Rosa, Liberdade e Morumbi, nos períodos da manhã e da noite. Confira a programação completa no 9ª Semana da Comunicação.
[1] Alunos do sexto e oitavo semestre do curso de Jornalismo. Estagiário e monitora da Agência Integrada de Comunicação (AICom).
[2] Professora do curso de Jornalismo. Atua na Agência Integrada de Comunicação (AICom).