“História das mulheres: artistas até 1900” no Masp apresenta mulheres inseridas no campo artístico do século I até o XIX
Texto Raissa Correia Pedroso e Jéssica Rodrigues Mendes [1]
Orientação: Profª Fabíola Paes de Almeida Tarapanoff [2]
Carla Tôzo [3]
Artistas da corte e da nobreza europeia, mas também artesãs asiáticas, com a presença do punjab (xale de noiva, tradição da Índia) e tecidos de tradição iconográfica islâmica, como capas decorativas do Império Otomano. Todas essas informações estão presentes no Museu de Arte de São Paulo (Masp) na exposição “História das mulheres: artistas até 1900”, que, acima de tudo trata-se de uma manifestação da resistência feminina.
Muitas das obras não possuem autoria conhecida, mas trazem consigo séculos de história não só sobre um povo, mas sobre a importância da figura feminina em todos os parâmetros culturais de uma sociedade.
Para além do macro-contexto, isto é, a relevância das obras femininas no âmbito artístico, como por exemplo, a inserção de pintoras flamengas em uma época em que o renascentismo italiano e seus respectivos pintores estavam em alta, é possível perceber quadros em que a narrativa individual de mulheres eram também visíveis, como no Retrato da contralto Giuseppina, de Elisabeth Louise Vigée Le Brun, em que a marca da forte amizade entre as duas artistas foi deixada pela presença de cores fortes e realces à beleza da contralto. Embora fosse comum a técnica de retratos entre artistas masculinos, a representação feminina como forma de admiração é também uma maneira emblemática de apresentar a valorização da arte pela sororidade.
Ainda sobre as muitas faces da arte e a sua importância como instrumento questionador, a obra de Abigail de Andrade (pintora e desenhista brasileira) revela o caráter crítico, de registrar a vida de pessoas que já viviam nas margens da sociedade urbana, como no quadro A hora do pão, em que a simplicidade se subverte e evidencia o protesto.
A escritora Catarina Mendes, visitante do museu achou a proposta da exposição interessante. “Sobre a exposição em si, achei bem interessante a forma de como o Masp teve a iniciativa de contar essa narrativa, pois já é um projeto deles de anos, de contarem a presença das mulheres na arte”, comentou. Ela explica que em 2017 teve uma exposição com esse mesmo teor político, envolvendo a questão feminista.
“O que eu vejo é que o Masp acertou na forma da narrativa se desenvolver, o cuidado com as obras e como elas foram expostas. Pelo fato de ela ter me marcado muito e por ter me feito refletir, estou vindo aqui pela segunda vez. Deixei para vir de novo com mais calma, porque é uma exposição feita para pensar justamente na narrativa delas e nas suas histórias de vida. Eu vim com mais calma também para ler cada uma dessas histórias, e ver todo o contexto social e histórico por trás. Afinal, é uma exposição de antes de 1900. Eu por ser mulher e artista (sou escritora), saio daqui me questionando e ainda mais empoderada, no sentido de entender o quão difícil foi naquela época”, analisa.
A escritora explica ainda que há na exposição histórias incríveis de mulheres de 1830 a 1850 que estavam à frente do seu usando a pintura como forma de expressão e de resistência. “É importante refletir como as pautas não mudam, estamos vivendo as mesmas questões, mesmo que de uma outra forma, pois o mundo mudou muito, mas ainda podemos ver o número de artistas masculinos que existem atualmente nas galerias em exposição e em comparação o número de mulheres nas exposições ainda é muito baixo. Isso em todas as áreas artísticas, como por exemplo no teatro, em que as atrizes ganham bem menos que os atores”, completa.
História das Mulheres (Artistas até 1900)
Local: MASP – avenida Paulista, 1.578 – Bela Vista, São Paulo – SP
Período: De 23 de agosto de 2019 até 17 de novembro de 2019.
Horário de funcionamento: Das 10h às 18h. Às terças-feiras, das
10h às 20h.
Fechado às segundas-feiras.
Valor da entrada: R$ 40 Meia: R$ 20 – Gratuito às terças-feiras.
Mais informações: https://masp.org.br/exposicoes/historias-das-mulheres
[1] Alunas do segundo semestre do curso de Letras-Inglês e Jornalismo, respectivamente. Ambas são monitoras do Núcleo de Estudos de Cultura (NECULT)
[2] Professora do FIAMFAAM Centro Universitário e coordenadora do NECULT (Núcleo de Estudos de Cultura).
[3] Professora do curso de Jornalismo. Atua na Agência Integrada de Comunicação (AICom).