Por Giuseppe Frateschi
“Os indígenas da tribo Kaxinawá são os Huni kuin!” Foi com esta exclamação que o professor do FIAM FAAM – Centro Universitário, Waldir Baptista, apresentou a sua tese de doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) durante a programação do Dia do Índio, organizada pelos Núcleos de Estudos Étnicos e Raciais e do Meio Ambiente (NERA e NEMA). A frase em destaque foi usada para descontrair e mostrar que mesmo com diversos estudos sobre esses povos, ainda há muita confusão no estudo de etnias brasileiras.
Com o tema “Registro audiovisual da omissão do estado brasileiro nas políticas públicas de saúde segundo depoimento de lideranças indígenas”, o trabalho tem como intuito mostrar o descaso e a precariedade pelo qual as populações do Acre sofrem atualmente.
O evento foi mediado pela professora Maria Lúcia Silva, coordenadora do NERA, e foi realizado um dia depois do dia do índio, dia 20 de abril, além de ocorrer na mesma semana em que o Instituto Socioambiental (ISA) lançou a 12ª edição do livro “Povos Indígenas no Brasil 2011/2016”. Referência no estudo das etnias no Brasil, a obra confronta informações colhidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e traz números ainda menos otimistas e distantes da realidade proposta pela instituição.
De acordo com Baptista, esta e outras organizações governamentais (como a FUNAI – Fundação Nacional do Índio) à vezes atrapalham a ajuda humanitária para estes povos no Acre. Para se ter ideia, só a etnia Huni Kuin tem mais de dez mil pessoas espalhadas no estado: “Para o SUS, o índio é branco quando interessa para ele, mas volta a ser índio quando não interessa mais”, diz o professor, fazendo clara referência a casos de atendimento de indígenas doentes somente se a instituição pública de saúde for beneficiada.
Ainda segundo ele, há “um abismo enorme entre a cultura indígena e a cultura dos brancos”. Isto é, a sociedade precisa rever os conceitos sobre tal tema. O pesquisador revela que o ruído é grande a ponto de existir comida de índio e de branco, assim como doenças de branco e enfermidades de índio. Estas informações são transmitidas por líderes indígenas que observam pessoas morrerem por inanição ou por doenças que deveriam ter sido erradicadas do país.
Línguas indígenas
O material coletado pelo pesquisador traz personagens como Josias Pereira Kaxinawá, 40, que é cacique de sua aldeia e tem extrema dificuldade para falar português. Mas não é questão de incompetência. A realidade dele, mesmo dentro do Brasil, faz com que a língua portuguesa seja a sua segunda língua, pois a principal é o idioma herdado por seus antepassados, o Hãtxa Kuin.
A princípio pode não parecer um assunto relevante dadas as atuais circunstâncias do Brasil (crise política, social e econômica), mas a verdade é que o tema nunca foi tão urgente. De acordo com uma reportagem da Agência Brasil, nos próximos 15 anos o país corre o risco de perder até 60 diferentes línguas indígenas, o que corresponde a 30% dos idiomas falados por estes povos – sugerindo que a população de 715.213 apontada pelo ISA, deve diminuir ainda mais.
No material recolhido em vídeo pelo professor Baptista diversas autoridades que se dedicam à defesa dessas populações dizem que a precariedade na saúde é enorme. Somente no Acre, muitas mulheres e homens sofrem de doenças ainda desconhecidas pelos povos indígenas. O que leva a crer que se nada for feito, esta cultura tão diversa pode caminhar ainda mais rápido para a sua ruína final.