Mesa sobre “Jornalismo e Fake News” esquenta debate sobre ética e moral na profissão

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Por Giuseppe Frateschi

A Semana de Jornalismo do FIAM-FAAM Centro Universitário, realizada entre os dias 3 e 7 de abril, não esperava que a mesa com o tema Jornalismo e Fake News, atrairia alunos, ex-alunos e professores para um debate sobre cinco principais temas: ética, moral, sensacionalismo, pós-verdade e a publicação de notícias falsas.

O encontro aconteceu na última quinta-feira, 06, no Auditório Nelson Carneiro, foi parte da Semana de Jornalismo do FIAM-FAAM e teve a mediação da professora do Mestrado Profissional em Jornalismo da instituição, Juliana Doretto.

“Quando falamos de notícia falsa em escala muito grande, capaz de mudar uma série de dinâmicas na sociedade, a gente não está falando de um fenômeno muito novo, então eu gosto de usar sempre o exemplo do Protocolo dos Sábios de Sião”, diz diretor editorial e de produtos da Associação Nova Escola, Leandro Beguoci.

Ele explica que o protocolo foi um panfleto que surgiu na Rússia czarista em algum momento do século XIX falando sobre uma suposta conspiração judaica para dominar o planeta terra. “Surgiu em um contexto muito específico de um antissemitismo gigantesco na Rússia. Ele cresceu uma barbaridade a ponto de as pessoas acharem que essa conspiração de fato existia. As ideias que esse fake news teve se perpetuam cem anos depois”, acrescenta.

A jornalista e pesquisadora do Centro de Mídia Barão de Itararé, Ana Flávia Marx, falou sobre a importância de discutir esse assunto na academia: “esse é um tema muito importante e que deve estar na academia, pois se não a gente não consegue fazer as perguntas mais adequadas e buscar respostas para esse fenômeno e o crescimento dele”.

Com redações cada vez mais enxutas, com poucos funcionários, o tempo para fazer a checagem de fatos, também diminui. Para a repórter da agência de fact check Lupa, Marina Estarque, as checagens de notícias deveriam “ser feitas pelas próprias empresas, mas, o tempo reduzido na redação digital muitas vezes não permite”.

Falta de leitura agrava proliferação de notícias falsas

Para o repórter especial da Folha de S. Paulo, Fábio Victor, que escreveu uma reportagem sobre o tema na atualidade, “Como Funciona a Engrenagem das Notícias Falsas no Brasil”, uma das principais barreiras atualmente é a falta de leitura, até mesmo de jornalistas. “A gente vive um tempo de déficit de atenção, um tempo de imperatividade, fazendo mil coisas e lendo mil coisas ao mesmo tempo. São sintomas diretamente ligados a essa avalanche de informações, fragmentação delas e milhões de microunidades informativas, que vão acendendo e apagando como pequenos vagalumes em nossos smartphones.”

E para o professor e pesquisador da ESPM, Luiz Peres Neto, o fact checking não é somente uma responsabilidade do jornalista, mas sim uma prática feita cotidianamente por todas as pessoas. Ele citou como exemplo quando retornou para o Brasil após ter morado muito tempo na Espanha, o que o fez sentir-se perdido pelas ruas de São Paulo, mesmo durante suas atividades profissionais: “é preciso se fazer a checagem para que não entremos na sala errada e nem na instituição errada, o que aparentemente pode acontecer com qualquer um”.

Para a satisfação de alunos de diferentes semestres que participavam do evento, a mesa discutiu temas extremamente impactantes e históricos, como o caso da “Escola Base”, como lembrou a jornalista do Centro de Mídia Barão de Itararé, Ana Flávia Marx: “a falta de compromisso na metodologia em que se usou no caso”.

Além de notícias falsas, novas e velhas práticas do jornalismo e crise foram ressaltadas durante a mesa da Semana de Jornalismo, que comemora os 45 anos do curso no FIAM-FAAM-Centro Universitário. “Quando eu me formei, já se falava que o jornalismo estava em crise, o que aparentemente continua até hoje, mas ele segue firme e forte”, enfatiza a repórter da agência de fact check Lupa, Marina Estarque.