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Estudantes do FIAM-FAAM participaram da Semana Estado de Jornalismo 2016

Por Jogê Pinheiro

Entre os dias 18 e 21 de outubro, em sua sede na capital paulista, o jornal O Estado de São  Paulo, (Estadão) promoveu a “Semana Estado de Jornalismo”. Com apoio e patrocínio do Banco Santander,  foram quatro dias recheados de muitas palestras, conversas, troca de informações, conhecimento  e porque não dizer “azaração”. Afinal,  foram 58 universidades de todo o país que  enviaram alunos para participar do evento. O público foi particularmente formado por jovens com idades variando entre 18 e 30 anos.

O calor que fez naquelas tardes chuvosas em São Paulo ajudou a esquentar o clima e os debates,  amenizados somente pelo ar-condicionado que funcionava a todo vapor depois que você ultrapassava a porta de vidro automática da entrada que dava acesso ao auditório. Com escadas muito bem planejadas, o acesso era decorado com antiguidades da época de fundação do jornal em perfeito estado de conservação. Subindo esses degraus, perdi-me em meus devaneios a vislumbrar um painel gigantesco e lindo de Portinari. Tentando manter a calma e euforia, terminei de subir as escadas e esbarrei em um paredão de credenciais, informações desencontradas e a péssima notícia de que “o auditório está lotado, você terá que acomodar-se ali ”, falou uma das recepcionistas, apontando para uma das 150 cadeiras espalhadas no “lobby” do auditório completamente abarrotado de espectadores ávidos por conhecimento, histórias, técnica e alguns brindes. Saí de meu estado de sonho-transe e cai esparramada em um assento esquecido ao lado da porta do elevador. “Tentei” assistir às primeiras palestras em dois monitores minúsculos, quase sem som, pois o auditório amplo, confortável, com ar-refrigerado, microfone e acesso à internet,  comportava somente 190 dos 350 estudantes presentes. Ignorando o contato com a realidade ou com o ambiente que me rodeava, conclui assim o meu primeiro dia de palestras. Porém, como não vim ao mundo a passeio, lembrei-me de um pensamento dito por um filósofo e místico armênio, George I. Gurdjieff: “Existem de fato mentes inquiridoras, que anseiam pela unidade, e empenham-se para resolver os problemas colocados pela vida. ”  E parti para fazer o que sei de melhor, pesquisa, fui a campo, saber como funcionava tudo, com quem poderia falar. No dia seguinte cheguei o mais cedo possível conseguindo sentar entre os 200 “abastados” dentro do auditório. E com a notícia de que o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, havia sido preso (finalmente). Assim começava o nosso segundo dia de debates e palestras orquestradas pela não menos simpática Carla Miranda, coordenadora e organizadora do evento que dava o tom e mantinha a ordem. Muita chuva do lado de fora do prédio, granizo, trânsito complicado e nós ali esquecidos pelo mundo e mergulhados em outro,  povoado de seres supremos, pessoas notáveis pelo seu esforço na escolha da profissão e comprometimento em dividir experiências e histórias. É óbvio que a palestra aconteceu em clima de alívio por parte da maioria e os assuntos foram política, corrupção e operação “lava jato”.

A quinta-feira morna, tranquila, foi por unanimidade eleita como o dia com a melhor palestra da semana (ao menos com as pessoas com as quais conversei), intitulada “Jornalismo e Direitos Humanos”. Claudia Belfort, pernambucana, “arretada”, uma das criadoras da Ponte, um site que faz um jornalismo sobre justiça, direitos humanos e segurança pública, usou “comprometimento” como a palavra-chave para descrever a sua paixão e dedicação pela profissão e encontrar sucesso em suas, digamos, “idas a campo”. Belfort disse que essa palavra “caracteriza bem essa atividade, pois é fundamental manter uma conduta profissional, ética e responsável”.

Os intervalos entre as palestras eram de 20 minutos, correria para enfrentar a fila do lanche, do banheiro, muito pouco tempo para as conversas de bastidores e com alguma sorte conseguir encontrar um dos palestrantes para fazer aquele comentário, aquela pergunta que não queria calar.

“Em busca de paz: a crise dos refugiados” foi um dos temas das palestras de sexta-feira, 23 de outubro, último dia do evento.  Nos bastidores a conversa de boca miúda era “nossa! Tema batido”. E com todo aspecto de que seria exatamente assim, começaram as primeiras considerações do que prometia ser maçante. Até começar o relato da repórter do jornal Zero Hora, Letícia Duarte, com jeito e figurino do filme “As Patricinhas de Beverly Hill”, fala macia, jeito discreto, sotaque gaúcho de ser, nos deu um “soco direto no estômago” e provou que as aparências enganam, e neste caso, muito. Tendo como companheiros de aventura o celular, o bloco, a caneta e muita coragem para viajar até a  cidade de Bodrum, na Turquia, até aquela praia onde foi encontrado morto o  menino sírio que virou símbolo da fuga dos refugiados. E daí  tentar fazer a travessia primeiro para Grécia e depois França, Inglaterra… Emocionante, tocante.  Silêncio total no auditório que era quebrado apenas pelos aplausos extasiados de emoção, inclusive dos que estavam assistindo do lado de fora do auditório. Nos fez repensar os nossos valores e no outro como ser humano. Que semana de jornalismo.

Daniel Moura, 18 anos, no segundo semestre de Jornalismo na PUC Paraná, primeira vez na Semana Estado de Jornalismo, veio a São Paulo com mais dois colegas da faculdade, gostou principalmente das palestras de jornalismo humanitário. “O que eu mais aprendi na semana de jornalismo é que temos que ter responsabilidade e respeito pelo ser humano. Não dá para ficar dando ‘barrigada’ como notícia”, afirmou.

A segunda e última palestra de sexta-feira foi literalmente um “fôlego”: Robson Morelli, jornalista esportivo do Estadão. Com um jeito todo próprio de ser, sem pose e com despojamento e certa classe, arrasou em seus comentários. Um encantamento, um estilo todo próprio nos fez entender como é bom ter a experiência e talento sem arrogância. Em momento algum vacilou ou ficou em “cima do muro”. Respondeu a todas as perguntas sem grilhões e nos deu um conselho fantástico: “Às vezes devemos estar onde ninguém pensou em estar, tentem mudar de posição, olhem por outro ângulo, faça a diferença”.

 

Alunos de Jornalismo do FIAM-FAAM na sede do Estadão
Alunos de Jornalismo do FIAM-FAAM na sede do Estadão

 

O 11º Prêmio Santander Jovem Jornalista

Este ano a pauta para concorrer ao Prêmio Santander de Jornalismo foi “Iniciativas virtuais que facilitam seu dia a dia”. Em uma rede social, a organizadora da Semana de Jornalismo, Carla Miranda, publicou uma nota dizendo que este ano obtiveram recorde de inscritos. E que o ganhador da bolsa de estudos em Navarra, Espanha, será anunciado na primeira quinzena de dezembro. Por enquanto, “in bocca al lupo” para todos os participantes.

Os temas convergiram e foram atuais, o panorama para o futuro não é agradável para aqueles que esperam deitados em “berço esplêndido”. Temos que investir em nossas perspectivas para mudanças e acreditar que essas serão muito promissoras e auspiciosas, afinal de que vale a vida sem, no mínimo, esperança?

Parabéns ao Estadão e ao Santander pela parceria e também por ter proporcionado a todos nós participantes a chance de poder compreender e chegar um pouco mais perto da realidade de se tornar, com dignidade e respeito, um profissional formador de opinião. Sigamos os exemplos de Robson Morelli, Claúdia Belfort, José Maria Mayrink, Roberto Godoy,  Letícia Duarte, Edmundo e tantos outros.